A história do remédio que revolucionou tratamento da dor e deu origem à indústria farmacêutica há 125 anos

Foi um marco científico. O ácido acetilsalicílico, popularmente conhecido pela marca comercial Aspirina, é considerado o medicamento que inaugurou a indústria farmacêutica.

Trata-se do primeiro fármaco a ser sintetizado em laboratório, ou seja, que não pode ser encontrado em sua forma final na natureza.

Seu registro de patente foi realizado pela empresa Bayer em 6 de março de 1899, em Berlim, na Alemanha. Era o começo de uma história de sucesso, que mudaria a maneira como a humanidade lida com a dor.

Mas antes de prosseguir com esta história, cabe um alerta sempre necessário quando o assunto é medicamento — e mais importante ainda no caso de um remédio barato e acessível como é a Aspirina, que pode ser comprada, no Brasil, sem a necessidade de receita médica: a automedicação é sempre um risco.

“[O ácido acetilsalicílico] é facilmente encontrado e vendido nas farmácias e, por conta dessa facilidade de acesso, esse medicamento acaba sendo usado de maneira inadequada, o que pode trazer efeitos adversos como problemas gastrointestinais, toxicidade renal e hepática”, alerta à BBC News Brasil o farmacêutico Jean Leandro dos Santos, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

“É sempre muito importante que haja orientação de um profissional de saúde no momento da indicação de um medicamento, como é o caso da Aspirina. O uso incorreto desses fármacos tem potencial [de consequência] grave. É importante que a população seja sempre orientada, no momento da decisão de utilizar um medicamento, mesmo que seja de fácil aquisição, isento de prescrição e de acesso direto na farmácia” completa o especialista, que também é coordenador do grupo de pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos na Unesp e membro da American Chemical Society (ACS).

Mas se a Aspirina tem 125 anos, sua história é derivada de uma substância — esta, sim, encontrada na natureza — utilizada pelo ser humano há pelo menos 2,4 mil anos. Trata-se do ácido salicílico.

Como funciona
ComprimidosCRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
Medicamento inibe enzima que contribui para a dor

Mas, afinal, como a Aspirina funciona?

“[Ela] inibe de maneira irreversível uma enzima no organismo responsável pela formação de prostaglandinas, que são substâncias que causam dor, e tromboxano, substância que causa fenômenos trombóticos”, explica à BBC News Brasil o médico Gilberto de Nucci, professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Essa característica da inibição, irreversível, se deve à capacidade do acetilsalicílico de acetilar essa enzima, cujo nome é ciclo-oxigenase”, completa Nucci, que é membro da Academia Nacional de Medicina, da Academia Nacional de Farmácia e da Academia Brasileira de Ciências.

Santos detalha que essa enzima “é responsável pela produção de mediadores que regulam o funcionamento e o equilíbrio de vários órgãos”,

“Frente a uma inflamação ou quadro febril, esses mediadores são produzidos em excesso, e esse aumento de produção acaba aumentando o quadro inflamatório e sensibilizando os terminais receptivos responsáveis pela dor”, explica o farmacêutico.

O “pulo do gato” de Hoffmann foi, de acordo com Santos, “uma estratégia bastante simples”, na qual ele “fez uma reação química de acetilação do ácido salicílico, levando à formação do ácido acetilsalicílico”.

“A introdução desse grupamento é responsável pela redução das propriedades indesejadas que o ácido salicílico tinha”, completa.

Durante muito tempo, no entanto, esse mecanismo de ação do medicamento era desconhecido. Sabia-se que funcionava por conta da experiência prévia com o extrato do chorão. Mas não se entendia exatamente como o fármaco agia no organismo.

“Isso só foi descoberto depois. E rendeu um Nobel para o descobridor”, destaca Herrmann.

Os méritos são do farmacêutico britânico John Vane (1927-2004), ganhador do prêmio Nobel em 1982, anos após demonstrar o mecanismo de ação do ácido acetilsalicílico.

A Aspirina começou a perder o posto de analgésico preferido depois que foram desenvolvidos outros fármacos destinados a aliviar a dor, como o paracetamol, em 1956, e o ibuprofeno, em 1962.

Fonte: BBC

Sindicato Intermunicipal da Indústria Química e Farmacêutica de Juiz de Fora

Av. Garcia Rodrigues Paes, 12.395 - Bairro Industrial - 36081-500 - Juiz de Fora

Telefax: (32) 3224-0999