A indústria farmacêutica nacional continuou a ampliar a liderança no varejo brasileiro de medicamentos em 2015.
De acordo com a Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), no ano passado, a participação dessas empresas nas vendas em unidades chegou a 64%, frente a 62% em 2014. Em receita, as farmacêuticas nacionais responderam por 56% das vendas nas drogarias, com ganho de dois pontos percentuais em relação ao ano anterior.
Os dois índices são os maiores já registrados pela indústria e coroam uma trajetória de cinco anos à frente da concorrência internacional, ao menos em unidades. Em receitas, as farmacêuticas nacionais superaram as múltis a partir de 2013, conforme o levantamento da Alanac, que toma como base dados da IMS Health.
Em relação ao início dos anos 2000, o avanço dos brasileiros no mercado de medicamentos é ainda mais notável. Naquela época, a fatia dos laboratórios nacionais era de 28% e passou a 32% em 2002. “Desde então, ela veio aumentando paulatinamente”, disse ao Valor o presidente-executivo da Alanac, Henrique Tada.
Em boa parte, essa participação crescente deveu-se a importantes avanços regulatórios, ainda na década de 90, e aos pesados investimentos executados pelos laboratórios brasileiros desde então. Entre 1996 e 1999, lembrou Tada, as legislações de patentes e de genéricos impulsionaram investimentos das empresas de capital nacional, que apostaram em bloco nesse último segmento de mercado.
A criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 1999, também deu fôlego à indústria nacional. Nos anos mais recentes, acrescentou, o crescimento do mercado doméstico de medicamentos e novos aportes da indústria nacional em instalações fabris, sobretudo nos segmentos de genéricos e similares, garantiram a assunção da liderança.
“Há projetos congelados neste momento por causa da crise, mas o setor segue crescendo, tanto as nacionais quanto as multinacionais”, ponderou Tada. No ano passado, o mercado farmacêutico como um todo alcançou 3,8 bilhões de unidades no Brasil, das quais 3,2 bilhões de unidades (ou 84,2%) comercializadas no varejo, onde a expansão foi de 7%. Em receita, o mercado total movimentou R$ 137,2 bilhões, com R$ 71,6 bilhões (52,19%) gerados no varejo – expansão de 14% frente a 2014.
Ao mesmo tempo em que mantiveram a aposta em capacidade instalada, as farmacêuticas brasileiras, apontou o presidente-executivo da Alanac, não perderam de vista a necessidade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. No campo da inovação, essas empresas já entraram no terreno dos medicamentos biológicos, que são considerados a nova fronteira da indústria em todo o mundo.
Remédios biotecnológicos são produzidos a partir de organismos vivos, por meio de tecnologias complexas e caras. “A área de biológicos demanda esforço grande de inovação e tecnologia e a indústria nacional não perdeu esse bonde”, afirmou Tada.
Para 2016, a perspectiva é a de manutenção da trajetória de alta, mas vai ser difícil que a indústria repita as taxas de expansão verificadas no ano passado. “A redução das compras públicas já está afetando o ritmo de crescimento”, explicou. Além disso, as farmacêuticas terão de fazer frente a outro desafio, o da rastreabilidade dos medicamentos. O setor aguarda com ansiedade a revisão da norma da Anvisa sobre o assunto, com vistas a estender o prazo para adesão de toda a cadeia de medicamentos ao sistema. A norma inicial estabeleceu dezembro de 2016 como prazo final. “A Anvisa já entendeu que não será possível cumprir esse prazo”, comentou Tada.
Fonte: Interfarma